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21 de Junho de 2019

Dia de São Luis Gonzaga - Patrono dos Seminaristas

São Luís Gonzaga e o desejo de entregar-se a Deus

Corremos o risco de pensar a santidade como atributo de alguns poucos privilegiados, misteriosamente agraciados por Deus e capazes de vencer aquilo que julgamos insuperável. “Os santos venceram esta ou aquela tentação, eu não posso. Os santos rezavam e eram ouvidos por Deus sempre, eu não. Os santos eram perfeitos, mas eu estou muito longe disso.” Fazemos da santidade, muitas vezes, uma utopia, como se se tratasse apenas de um discurso piedoso do passado, mas não é assim.

Santidade é uma relação de amor entre Deus e aquele que livremente decide se lhe entregar totalmente. Diz Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada” (Jo 14, 23). Ser santo é tornar-se morada de Deus, sacrário da Santíssima Trindade. Mas como posso chegar a isso? Que esforços devo fazer para chegar à santidade? O que devo fazer? “Ama e faze o que queres”(Sto Agostinho). O amor é a força dos santos. O amor é a força, o motivo e o destino dos santos, é a luz que ilumina toda a sua vida e dá significado a cada gesto e a cada acontecimento. E se não sabemos como amar, não nos faltam exemplos. Olhemos para Jesus, para sua Mãe Santíssima, para os Apóstolos e a multidão de santos que nos precedem no Céu!.

Olhemos hoje, especialmente, o belo testemunho de amor do jovem São Luís Gonzaga. Muito cedo, aos sete anos de idade, decide-se pelo Senhor e se consagra inteiramente a Ele, e com apenas 17 anos ingressa na Companhia de Jesus. Talvez nos pareça um exemplo distante demais, cinco séculos atrás de nós, um santo de outros tempos, de uma realidade demasiado distante da nossa, um exemplo impossível de seguir. Ora, o que importa para nós na vida de um santo não são as lutas exteriores que ele enfrentava nos ambientes em que vivia, mas a determinação interior que o movia na direção de Cristo. O jovem Luís não olhou noutra direção depois que conheceu a Cristo! Uma vez encontrado e atingido pelo amor de Jesus, fixou nele seu olhar e toda a intenção de seu coração e nunca mais se desviou. Sua vida inteira foi um canto de louvor ao Senhor, uma entrega total de si mesmo a Ele com uma tal determinação que lhe parecia absurdo não se esforçar ao máximo para pôr em prática da melhor maneira possível o que podia fazer para Deus. Assim foi em sua vida de oração, nas meditações, nas penitências, nas obras de caridade até que, consumido de amor e fragilizado por uma doença contraída quando cuidava de alguns enfermos, nasce para o Céu em 21 de junho de 1591.

Assim Deus conquista as pessoas, dando-se a conhecer, deixando-se alcançar, mostrando seu coração para ser contemplado e imitado. Seu convite, sempre premente, ecoa através dos séculos e alguns o escutam e seguem corajosamente, outros o ignoram, outros ainda fingem tê-lo escutado e vivem como se não houvesse Deus e pecam como se não houvesse amanhã, enquanto outros esperam, ainda que inconscientemente, receber ao menos uma gota do Amor de Cristo de um discípulo seu. E nós, o que fazemos quando escutamos a Palavra de Deus? O que fazemos quando ouvimos Jesus dizendo no Evangelho: Segue-me? Decerto, muitos ignoram, pensam que o seguimento de Jesus se reserva a alguns privilegiados que se dedicam a alguma atividade na Igreja. Esquecemo-nos de que discipulado e santidade se identificam, são uma só e a mesma realidade. Em outras palavras, sem santidade é impossível ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, porque é impossível ser discípulo de um desconhecido: “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”(1Jo 4, 8).

Esse amor, porém, é concreto, “encarna-se” na vida diária, na oração e na caridade. É para amar que alguns são chamados por Deus à vida sacerdotal, outros à vida consagrada contemplativa, outros a se consagrarem a Deus na missão e na evangelização, outros ainda formarem famílias e gerarem filhos para a Deus. Por isso diz-nos São João:

Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor. Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que vivamos por ele. (1Jo 4, 7-9).

É o amor de Cristo que nos impele! Cristo morreu por nós para que não vivamos mais para nós mesmos, mas para Ele (cf. 2Cor 5, 14s). Assim viveu São Luís Gonzaga, recusando a mediocridade e amando com todo o seu coração. Ele desejava a eternidade e desejava Deus, não apenas um pouco, mas Deus inteiro!Vemos tantos, e tantas vezes contamo-nos entre esses, que se contentam em fazer o mínimo, em não cometer escândalos, não roubam, não matam, não cometem crimes, rezam de vez em quando, vão à missa aos domingos, rezam eventualmente. São Luís não era assim. Uma vez que se decidiu por Cristo nada mais ocupava seus pensamentos nem seu coração, fez de Cristo seu presente e seu futuro, seu único bem e o único motivo de tudo. Não estime Deus em tão pouco, que queira dar pouco por Ele, pois Deus o estimou em tanto a ele, que não quis dar menos do que a Si próprio por ele. [...] O amor é um gênero de guerra, não sendo admitidos aqui os covardes, os quais mandava Deus que fossem expulsos de entre a gente de guerra (São João de Ávila), pois “o Reino dos Céus irrompe com força, e fortes dele se apoderam”(Mt 11,12).

Alimentemos em nossos corações o desejo de nos entregarmos a Deus! Dediquemo-nos à oração, à meditação assídua da Palavra de Deus, “aproximemo-nos então, com confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça do auxílio no momento oportuno” (Hb 5, 16). Entreguemo-nos de uma vez a Deus, sem impor limites ao dom de nossas vidas! Que nada falte em nossa oferta daquilo que o Senhor nos pede!

A vida de São Luís deve nos interpelar, deve nos impulsionar a dar a Deus mais do que temos dado, a não nos acomodar pensando que em algum momento já teremos dado o bastante, que podemos descansar em nossos trabalhos. Portanto, mãos à obra que durará toda a nossa vida, entreguemos nossa vida inteira ao Senhor enquanto ainda temos tempo, “enquanto ainda se disser hoje” (cf. Hb 3, 13). Só assim iremos ao Céu!“Levemos algo de que nos gloriarmos; levemos alguma empresa de amor por aquele que verdadeiramente nos ama, para que não seja o nosso amor só de palavra”(São João de Ávila).

Senhor Jesus Cristo, alegria dos santos, concedei-nos, por intercessão de São Luís Gonzaga, paciência nas tribulações, constância na virtude, coragem nas perseguições e generosidade no sacrifício de nossa vida, para que, fortalecidos e sustentados por vossa graça, sejamos um dia contados entre os eleitos no Céu, onde com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

 

Autor: Paulo Chaves, Seminarista da Arquidiocese de Brasília.