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01 de Mai de 2021

Homilia: Quinto Domingo da Páscoa

“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15, 4)

 

            Ser discípulo de Jesus Cristo não pode ser uma coisa de momento, levado pela emoção. Fazer-se discípulo do Senhor requer o empenho de toda a vida e da vida toda. Não nos contentemos em dedicar apenas alguns momentos da vida a Cristo. Precisamos permanecer Nele hoje e sempre, para que Ele também permaneça em nós.

            Há muitos, em nosso tempo, que se contentam em passar momentos com o Senhor. Mas Ele nos pede muito mais que isto: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15       , 4). Se permanecemos em Jesus Cristo e Ele permanece em nós somos discípulos. Se não permanecemos Nele e não permitimos que Ele permaneça em nós, devido ao nosso pecado ou porque não nos convertemos, discípulos não somos.

            É vergonhoso como muitos cristãos católicos tem vivido a sua fé, uma fé de momento, de interesse, que troca o permanecer em Jesus por qualquer outra coisa que apareça. Se teve um desentendimento com o pároco, se ficou desagradado com os irmãos de pastoral, se está passando por dificuldades pessoais, a primeira coisa que abandonam é a Eucaristia e a comunidade. Será que isto é realmente motivo suficiente para abandonar a fé? Aliás, nenhum motivo justifica que abandonemos a Jesus Cristo e sua Igreja.

            Não podemos ser cristãos católicos de momento. Precisamos ter a coragem de permanecer no Senhor, mesmo quando nos confrontamos com nossas fraquezas e com as fraquezas dos nossos irmãos. Se não permanecemos no Senhor não produzimos fruto algum de conversão, de caridade, de vida eterna: “...assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim” (Jo 15, 4).

            O fruto mais excelente que produzem aqueles que permanecem no Senhor é o amor. Um amor que não seja somente da boca para fora, como nos adverte São João: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade” (IJo 3, 18). Um amor que se traduza em capacidade de renúncia, de sacrifício, de doação, de serviço, de partilha, de paciência, de conversão, de comunhão, de testemunho. Um amor que apareça tanto nas palavras como na vida.

            Sem o amor verdadeiro não permaneceremos no Senhor e na sua Igreja por muito tempo. Normalmente, quem abandona Jesus Cristo e sua Igreja é porque não aprendeu a amar, a servir, a renunciar a si mesmo. Os problemas de relacionamento, de compreensão, de divisão, de falta de compromisso que encontramos, em nossas famílias, em nossas comunidades, pastorais, movimentos, paróquias, dioceses, são no fundo consequências da falta de fé e amor. Lá onde se substitui a centralidade de Cristo e do amor pelo egoísmo, pelo interesse pessoal, pela ambição, surge estas dolorosas experiências.

            Estes desvios resultam do não permanecer no Senhor e por não permitirmos que Ele permaneça em nós. Quando, por orgulho, capricho e interesse, optamos por permanecer na comodidade, no que me interessa, no que me sinto bem, no que me satisfaz, nas minhas ideologias, não sobra em nosso coração e vida lugar para Jesus, nem tempo para o próximo. Há tantos que se preocupam tanto com sua imagem pessoal, com sua autopromoção, que na sua vida não sobra espaço para Jesus Cristo. Pobre do crente cuja vida somente fala de si mesmo.

            Para entrarmos na Igreja do Senhor e permanecer Nela e Nele é preciso se fazer pequeno, humilde, é preciso querer servir, antes que querer ser servido; é preciso procurar compreender, antes que ser compreendido; é preciso amar, antes que querer ser amado; é preciso que nossa vida fale de Cristo não de nós mesmos. Quando cultivamos tais disposições o reino de Deus acontece, produzimos frutos de comunhão, de amor, de serviço, de evangelização. Não por um tempo, mas por toda a vida.

            O Senhor não nos quer por um tempo, por momentos, Ele nos quer por inteiro, por toda a vida. Quantos cristãos católicos foram líderes e evangelizadores fervorosos, assíduos na oração, na confissão, na eucaristia, na pregação, no testemunho de vida familiar e profissional, na evangelização, na catequese, que fizeram tanto bem à Igreja e ao mundo, e depois se desfaleceram pelo caminho. Caíram na tibieza, na dispersão, deixaram-se envolver por caprichos humanos. Quando poderiam produzir frutos para o reino dos céus em abundância. Se decidimos por ser de Jesus Cristo, que seja por toda nossa vida. Não esqueçamos o seu conselho: “Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Sem Cristo nossa vida se torna infrutífera, com Ele frutificamos para o bem para o amor, para a vida eterna.

 

Pe. Hélio Cordeiro