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12 de Junho de 2021

Homilia: 11º Domingo do tempo comum

“... enquanto moramos no corpo, somos peregrinos longe do Senhor” (IICor 5, 6)

 

   Caríssimos irmãos e irmãs, a vida é bela, o mundo é belo, o homem é um ser extraordinário, mas tudo isso passará. Este mundo que conhecemos, no qual vivemos e morremos, criamos, amamos, sofremos, ganhamos e perdemos, choramos e sorrimos, passará. Não temos aqui morada definitiva, somos peregrinos. Mas isto não significa que nosso peregrinar neste mundo seja sem significado, que nossas escolhas não tenham consequências.

   Aquilo que fazemos ou deixamos de fazer durante esta vida tem um alcance eterno. Nossa vida não se refere somente a nós, ela se refere aos outros, à toda a criação e à Deus. Por isso, o bem que aqui praticamos aguarda um prêmio – a salvação, a glória eterna, a visão beatífica. Também o mal que praticamos terá a sua paga – o castigo.

   Assim sendo quão grande precisa ser o nosso empenho em passar por esta vida fazendo o bem. Nisto consiste o ser discípulos de Jesus, do qual a Palavra diz: “...ele que passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele” (At 10, 38).

   Jesus passou pelo mundo fazendo o bem porque Ele é Deus e porque o Pai estava com Ele. Se queremos fazer o bem temos que permanecer em Deus e permitir que Deus permaneça em nós. Em nosso tempo existem alguns desvios graves que, certamente não são inspirados por Deus. Há alguns que acham que basta apenas fazer o bem, não se importando com Deus, com a fé, com a sua vida moral. Estes pensam que o bem que realizam em favor dos outros é suficiente para a sua salvação, por isso pensam que não precisam de Deus, da conversão e da fé.

   Há outros que tem uma vida de fé invejável: rezam, frequenta assiduamente os sacramentos, jejuam, estudam e aprofundam a sua fé, mas acham que isto basta. Não se preocupam em fazer o bem, em socorrer os pobres, os doentes, os idosos, os órfãos, os abandonados, os aflitos. Ora, a proximidade com Deus exige a proximidade com os pequenos.

   Há outros ainda que, por praticarem algum bem, acham que podem levar uma vida moralmente desregrada e em sem fé. A palavra de Deus é clara, somos peregrinos, esta vida passará, ou já está passando, chegara a hora em que “Todos nós temos de comparecer às claras perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – que tiver feito ao longo de sua vida corporal” (IICor 5, 10).

   A prática do bem em favor dos outros precisa ser sustentada pela vivência da fé, pelos sacramentos, sobretudo a eucaristia dominical, pelo desejo sincero de conversão. À exemplaridade da fé exige ser acompanhada do testemunho das obras e da conversão pessoal. A Deus não podemos enganar fazendo uma coisa e dando-se o direito de não fazer a outra. Pois fora de Deus não há nenhum verdadeiro bem.

   Enquanto somos peregrinos neste mundo antecipamos o Reino de Deus fazendo o bem aos que precisam, orando, jejuando, partilhando, vivendo em comunidade, suportando uns aos outros na caridade, glorificando e adorando o Senhor. Somos peregrinos neste mundo, mas é necessário cuidar desta pátria e dos irmãos enquanto caminhamos para a pátria definitiva. Não pode ter esperança de prêmio eterno, de salvação, de glorificação, aquele que nesta vida despreza o bem. O mal que fazemos nesta vida, o pecado, as rebeldias tem consequências eternas. Quem tem esperança de Céu procura realizar o bem nesta terra.

   Portanto, sigamos o exemplo do Senhor que passou por esta vida fazendo o bem e fazendo bem todas as coisas. Quando um peregrino parte até o seu destino tem a sabedoria e a prudência de levar somente o necessário. Tem a preocupação de não desperdiçar o seu tempo com o que é inútil. Pois sabe que se for negligente não chegará ao seu destino. Assim é nossa vida, enquanto somos peregrinos, esforcemo-nos, ajudados pela graça de Deus, em perseverar no bem, na fé e na verdade.

 

Pe. Hélio Cordeiro