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16 de Novembro de 2015

Pe. Oscar, sessenta anos de sacerdócio: uma oferta a Deus.

Aprendi a me doar aos outros, numa fidelidade lutada


Colombiano, Sulpiciano, e (não faz muito tempo) naturalizado brasileiro, José Oscar Duque Estrada – mais conhecido como o Pe. Oscar – tem sua história sacerdotal confundida com seu papel de padre formador no Seminário Maior de Brasília. De vocação muito precoce, formou inúmeros padres de Brasília e de dioceses vizinhas, inclusive bispos. Tantos foram seus dirigidos espirituais que não consegue contar quantos já passaram por suas mãos. Pe. Oscar completa seu jubileu de diamante (sessenta anos) de vida presbiteral em novembro de 2015 e, para homenagear este sacerdote, tão caro ao clero de Brasília, gostaria de partilhar um pouco de sua bela história de vida e entrega a Deus, confidenciada em entrevista no Seminário Maior.

 

Em sentido horário a partir do topo: 1. Pe. Oscar em 1931, ano de seu nascimento. 2. A mãe e o filho em uma cadeira de balanço. 3. Os pais Rafael e Maria Estrada.


Oscar nasceu em Aguadas, Colômbia, a 27 de janeiro de 1931. Seu nome foi escolhido em homenagem a um amigo alemão de seu pai. Posteriormente, no batismo, o padre acrescentou o prenome José, pois acreditava que Oscar era o nome de um perseguidor da Igreja. Mais adiante, quando Pe. Oscar se tornar professor de história da Igreja, não encontrará nenhum perseguidor que fosse seu homônimo, e se apresentará apenas com o nome que seus pais lhe deram. Rafael e Maria Estrada, seus pais, construíram uma sólida família de seis filhos: o primogênito Oscar, Maria Helena, Diego, Jorge (falecido), Nestor, e a caçula Lucía.


Em 1937, com apenas 6 anos, perdeu o pai, vítima de tifo. A mãe assumiu a chefia da família, tornando-se o ponto de unidade do lar. Dona Maria sustentou os filhos com seu trabalho de costureira, e foi ajudada pela avó e uma tia de Oscar. Essa circunstância permitiu que ele e seus irmãos tivessem a infância rodeada por mulheres fortes. Isso só reforçou em sua mãe o zelo pela formação dos homens de sua casa: Um homem não faz jarra, dizia ela ao perceber que algum filho colocava as duas mãos na cintura.

Em sentido horário: 1. Cópia da certidão de Batismo. 2. Em sua primeira comunhão com os irmãos (da esquerda para a direita: Nestor, Helena, Lucía, Oscar, Diego, a prima Nanci, Jorge. De pé, está a babá com a prima Cristina no colo). 3. Aos 12 anos, indo para o seminário Menor. 4. Conjunto de presentes ganhados depois da sua primeira comunhão para poder celebrar missas (eles os possui até hoje).


A ligação com o Sagrado surgiu muito precocemente. Sua mãe contava que, mesmo muito pequeno, pegava um santinho, segurava-o com as duas mãos e saía em procissão pela casa entoando: Sancta Maria sancta pro nobis... (sic). Quando perguntado a respeito do desejo de ser padre, o pequeno Oscar não titubeia em dizer que esse desejo nascera antes mesmo dele começar a brincar de celebrar a Missa – as hóstias eram feitas de pequenas rodelas de banana. A mãe, sempre apoiando o filho, fizera uma batina e uma sobrepeliz para que “celebrasse” para seus irmãos e vizinhos.


O gosto pela vida sacerdotal só cresceu e, em virtude da sua primeira Eucaristia, recebeu de presente um conjunto de brinquedos que imitava os objetos litúrgicos para celebrar a Missa (ver foto). Sua vocação amadureceu e, ainda aos 12 anos de idade, ingressou no seminário menor em Manizales. Foi ali que Pe. Oscar começou sua longa jornada sacerdotal, quer o traria até Brasília e ao seu jubileu de diamante de ordenação.

Celebrando a Santa Missa no seminário Menor de Manizales. Abaixo, com um jovem seminarista de Manizales, no seminário Menor.


Ainda em Manizales, entra no seminário maior. Foi lá, em 1949, que teve seu primeiro contato com a Companhia dos Padres de São Sulpício. Lembra-se Pe. Oscar que, durante os anos de formação, um grande amigo deixara o seminário, o que o fez sofrer com muitas lágrimas. Essa dolorosa experiência permitiu que entendesse o coração de seus futuros dirigidos, que perdiam diversos amigos no seu processo de discernimento vocacional, e que os caminhos de Deus conduziam por paragens não conhecidas.

Em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: 1. A mãe o levando para sua primeira Missa; 2. Foto da lembrança da sua primeira Missa; 3. Celebração da primeira Missa ainda no rito tridentino; 4. Dando a benção a sua mãe pela 1ª Missa.


Foi ordenado sacerdote no dia 21 de novembro de 1955, pela imposição das mãos de D. Luis Concha Córdoba, bispo de Manizales – depois, futuro Arcebispo de Bogotá e Cardeal Primaz da Colômbia. Sua primeira Missa foi o momento mais alegre de sua vida: o que antes era só uma brincadeira de criança, tornou-se presença viva do sacrifício de Cristo diante do Pai. Foi levado por sua mãe, radiante de felicidade, até a Igreja. O seu sacrifício se unia ao de Cristo e, dali em diante, nunca mais estaria só. Da sua turma original de seminaristas, apenas um se encontra vivo: Pe. José Cardona, que até hoje está na cidade colombiana de Manizales.


Pe. Oscar nunca pensou em ser padre formador. Desde a infância, pensava em ser um simples padre de paróquia, mas a Providência de Deus foi conduzindo-o a um novo caminho, a um novo chamado dentro da vocação sacerdotal. Em seus sete primeiros anos como padre, deu aulas no colégio diocesano de Nossa Senhora, tornou-se vigário de uma paróquia e retornou ao colégio, terminando por ser formador do seminário menor por quatro anos. Em todos esses sete anos, nunca deixou de dar aulas, e isso lhe é motivo de inquietação em relação à Companhia dos Padres de São Sulpício. Conversou com o reitor do Seminário Menor de Manizales, também sulpiciano, e, recebendo a devida dispensa do bispo diocesano, viajou ao Canadá para ser iniciado na formação da sociedade.


Em 1962, chegou a Montreal para os dois anos de formação de São Sulpício. A imagem de Pe. Oscar esquiando no rigoroso inverno canadense só contrasta com o pé torcido, o que ocorreu depois de um acidente de esqui. É o bom humor que o guia, e o ajuda até hoje em sua missão. No ano de 1964, foi oficialmente inscrito na Companhia dos Padres de São Sulpício, comunidade em que ele se sente realizado, onde passou a exercer sua vocação de professor e formador de padres. Viajou para Roma, onde, por três anos, realizou o curso de licenciatura em história da Igreja.

 

Março de 1963, período de formação de São Sulpício


O período em Roma foi muito rico de experiências. Por ter feito o curso licenciatura em História da Igreja justamente durante o período do Concílio Vaticano II, pôde observar o frescor do Espírito na Igreja. Pe. Oscar se diz um grande admirador de Paulo VI, sobretudo pelo seu espírito firme com que conduziu o concílio. Os padres estudantes da Universidade Gregoriana de Roma – conta, em tom de brincadeira –começaram a deixar a batina e passam a combinar cores. Nota que, antes, cada sacerdote celebrava sua Missa privada nos altares laterais das Igrejas, e que passaram a celebrar uma única Missa concelebrada por outros padres. Além disso, o uso do vernáculo nas celebrações o deixou muito contente. Ao fim de sua formação, retornou para sua terra natal.

Em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: 1. Em Atenas, Grécia; 2. Em 1973, Colômbia; 3. e 4. Período de estudos em Roma.

 

Encontro com o Papa Paulo VI em Roma. Encontro com São João Paulo II, em Brasília.

 

A família Estrada reunida após o retorno de Pe. Oscar de seu período de estudos em Roma, no ano de 1974. Da esquerda para a direita: Nestor, Lucía, Jorge, a mãe Maria, Pe. Oscar, Helena e Diego.


No período que antecedia sua decisão por São Sulpício, a cidade de Brasília começava a ser construída. Em breve, a história da futura Arquidiocese de Brasília e de Pe. Oscar vão se cruzar para sempre.  Em 1980, quando o provincial regressou da nova capital sul-americana e do Seminário Maior de Fátima, pelo qual os padres sulpicianos já eram responsáveis, disse-lhe que estavam precisando de um professor com nome próprio. O nome era Oscar. Sua maior preocupação era a reação de sua mãe, que iria ficar muito distante do filho. Em conversa com ela, acolheu o seu pedido: prometo não me intrometer nas suas coisas, mas peço que escrevas para mim. Com o acordo de seu diretor espiritual e a benção da mãe, chega ao seminário de Brasília no ano de 1980.
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1º Período como formador no Seminário Maior de Brasília. Em sentido horário, a partir do canto superior esquerdo. 1. Em sua sala, no ano de 1983; 2. Como ator, no teatro produzido pelos seminaristas; 3. Aniversário de Pe. Gregório PSS (Pode se identificar Pe. Josias, Pe. Gustavo PSS, Pe. Oscar, Dom Marcony, Pe. Evandro (agachado), Pe. Hélio (agachado atrás da grade), de pé o antigo provincial dos sulpicianos); 4. Diante dos antigos corredores do seminário; 5. Bolo de despedida, em 1988, cortando o bolo junto com Pe. Wilson; 5. Carta de homenagem na sua partida.

 

Despedida de padre Oscar em 1988. Podemos observar a presença de três bispos e diversos padres do clero de Brasília.


Pe. Oscar se sente brasileiro e brasiliense, com mais de 33 anos de padre só em Brasília. D. José Aparecido, bispo auxiliar de Brasília, afirma: Pe. Oscar é sulpiciano, mas ele também é nosso. Não muito dado a viagens, Pe. Oscar admira a beleza da capital de Niemeyer, da qual ele falava muito antes de pensar em viver aqui em suas aulas de Geografia na Colômbia.

 
Seu período como formador no Brasil só foi interrompido por três anos, em 1988, onde retornou a Colômbia (Cali), a pedido do bispo, para ocupar o lugar de professor de história sacerdote que precisou ir estudar fora. Essa despedida é registrada em fotos, que são verdadeiras relíquias. Diversos padres que hoje estão na Arquidiocese estão representados nestes retratos.

Em sua biografia pergunto se teve crises e se gostaria de partilhar alguma. Responde que, ao completar dez anos de sacerdócio, teve uma forte crise, e o modo que a Providência de Deus usou para sustentá-lo foi outro padre, seu amigo. Questiono de que forma isso poderia tê-lo ajudado. Responde objetivamente: ele me ouviu e me apoiou, e isso foi suficiente. Também pergunto o que sente quando um dirigido seminarista ou sacerdote deixa a vocação. Sua resposta me emociona:

Tristeza; muitos me arrancam até lágrimas, pois tínhamos tanta esperança. Não tenho um sentimento de frustação, pois sei que demos tudo o foi necessário como formadores. O sentimento é o mesmo que o de perder um tesouro.

 

Despedida em 1988.

 


A maior perda nestes sessenta anos de sacerdócio foi o falecimento da mãe, Maria Estrada. Visitou-a quando já estava muito doente e, quando de seu sepultamento, já havia retornado ao Brasil. A mulher da vida do padre é a mãe, e foi minha mãe que me incentivou a ir ao seminário.  Depois da perda, continua a receber o carinho de suas irmãs e irmãos. Fala com eles toda semana, até hoje, por telefone. Esse carinho e afeto recebido no berço familiar se manifesta aos seus dirigidos espirituais, especialmente na forma paterna e afetiva que os abraça.


Para encerrar nossa conversa, peço ao padre algumas reflexões sobre sua vida, sobre as graças realizadas e suas expectativas para o futuro. É assim que responde: Sempre há uma entrega e um serviço. Aprendi a viver para os outros, numa fidelidade lutada. Hoje, tenho mais serenidade diante das perdas. Percebo que nos momentos de solidão, a exemplo da Beata Elizabeth da Trindade, que Deus Trino habita em mim. Desejo, da mesma maneira que ela, ser um louvor de glória. Algo que não posso deixar de citar é a presença da Virgem Maria, a Imaculada Conceição, em minha vida. Ela sempre esteve presente em tudo, conduzindo tudo – fui batizado no dia de Nossa Senhora das Candeias, fiz Primeira Comunhão também num dia dedicado a ela, trabalhei em seminários, paróquias, todos dedicados à Mãe de Deus. Sou um privilegiado. Ao conversar com o padre, me emociono em diversos momentos – por serem respostas simples, mas repletas de significado. Diria que, mais que privilegiado, ele é um filho predileto da Mãe de Deus, pois a missão do padre é dar Jesus ao mundo. Com isso, Pe. Oscar Duque, PSS, completa: para o futuro, desejo rezar em primeiro lugar, e ler meus livros e... não quero viajar muito (risos).


Áderson Miranda da Silva, seminarista, 1º ano de Filosofia

Agradeço, de modo particular, o carinho de Pe. Oscar em partilhar sua história e a gentileza em ceder suas fotos pessoais. Por fim, sou imensamente grato a Deus por tê-lo visto feliz e emocionado com o trabalho final.

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Mídia

Pe. Oscar, 60 anos
Pe. Oscar, sessenta anos de vida sacerdotal. Arquivo Pessoal Pe. Oscar Duque PSS.
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11 comentários

  • Flávia Monteiro 19 de Novembro de 2015

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