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23 de Março de 2016

O Ano do Jubileu

Comunidade reunida na entrada da capela observando a queima de fogos Comunidade reunida na entrada da capela observando a queima de fogos

Tomamos de empréstimo o título dado pela Bíblia de Jerusalém à instituição do ano jubilar do povo de Deus, que deveria ser celebrado a cada sete semanas de anos. O termo jubileu é derivado da palavra hebraica yôbel, que significa cordeiro ou carneiro, porque com uma trombeta de chifre de carneiro anunciava-se o ano jubilar: o quinquagésimo ano, início da oitava semana de anos, é o Grande Sábado do Senhor, tempo de celebrar a misericórdia, bondade e generosidade de Deus, que se volta para aqueles a quem quis escolher com ternura e compaixão, cumprindo suas promessas de redenção e de salvação.
Naquele grande sábado o povo de Deus celebrava a impossibilidade de possuírem a terra, que lhes negava seus frutos naquele ano em que lhes era proibida a colheita do que fosse espontaneamente produzido pela terra, que tampouco poderia ser semeada. Privado desses frutos da terra, o homem volta seu coração para Deus, único verdadeiramente capaz de prover ao homem o necessário para sua vida, que é então mais uma vez proclamado soberano e Senhor. Ao mesmo tempo, estando a terra livre de qualquer posse, proclama-se que o Senhor é seu dono e cumpre-se, embora ainda em figura, a perfeita justiça de Deus, que a todos dá o necessário sem deixar faltar ou sobrar. O ano jubilar era o tempo em que o povo suplicava ao Senhor o perdão e a realização das promessas messiânicas.
Isso tudo oferece-nos alguma luz para compreendermos os desígnios da Divina Providência ao dispôr que celebrássemos este Jubileu aos quarenta anos de fundação de nosso Seminário. Não celebramos apenas por parecer-nos muito tempo, mas é significativo que o dilúvio tenha durado quarenta anos, que Moisés tenha estado no alto do monte Sinai durante quarenta dias quando da revelação do Decálogo, o povo de Deus tenha peregrinado durante quarenta anos no deserto até que chegasse à terra prometida, que Jesus tenha estado durante quarenta dias no deserto para ser tentado imediatamente após receber o batismo de João e antes de começar seu ministério.
Olhando para o passado do povo de Deus não é difícil compreender porque a Igreja desejou restaurar em seu seio a celebração jubilar. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça! O número sete, segundo a tradição dos judeus, representa a perfeição, a qual pode ser atingida pelos homens por meio de obras de caridade e generosidade, e representa também – o que para nossa reflexão é o mais significativo – a completude na natureza. O número oito, por sua vez, representa o sobrenatural, o poder divino que “causa” tudo o que há. Começa-se, portanto, a oitava semana de anos celebrando o Ano Jubilar, um ano inteiro de um intenso e vivo memorial da ação de Deus em nosso meio. O oitavo dia é para nós Cristãos o dia do Senhor, dia da Ressurreição, dia da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.
Celebramos nossos quarenta anos, anos de purificação, em que fomos lavados e talhados, passando pelo crivo do tempo e da sabedoria da Igreja até chegar aonde estamos. Celebramos nossos quarenta anos, anos de profunda formação, em que recebemos as bases da maturidade a que nos queria conduzir o Senhor. Celebramos nossos quarenta anos, anos de peregrinação sob a guia segura e experimentada da Companhia dos Padres de São Sulpício, que generosamente aceitou do Senhor o convite para levar-nos aonde estamos hoje. Celebramos nossos quarenta anos, anos de provação em que nós mesmos fomos experimentados e preparados para ser o que somos hoje. Celebramos nossos quarenta anos, contados desde nossa fundação ao início da assunção da direção de nosso seminário pelos padres de nossa Arquidiocese.
Celebramos este Ano Jubilar como um grande Domingo, nosso Anno Domini extraordinário e particularmente significativo. Não estamos no quinquagésimo ano, mas a hora que ainda não havia chegado foi providencialmente antecipada. Antecipada em dez anos, em primeiro lugar, em virtude do momento que estamos vivendo, e antecipada ainda em alguns dias, em razão da data de fundação do Seminário que neste ano coincidiu com a Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor.
No início desde ano despedimo-nos da Companhia dos Padres de São Sulpício, que entregaram a direção desde Seminário à Arquidiocese depois de frutuoso trabalho nesta circunscrição eclesiástica. Tal foi a abundância de frutos, de frutos bons, que agora aqueles formados por eles pisam as pegadas que dantes seguiram para conduzir o caminho de agora em diante. Eis a razão de nosso jubileu, o gozo indizível de podermos tocar e contemplar desde seu interior esta obra de Deus levada a cabo por corações tão generosos que aqui derramaram suor e sangue, elevando ao Senhor o incenso de seus incansáveis sacrifícios e orações para que, depois de quarenta anos, havendo-nos conduzido até aqui nos deixassem entrar, por assim dizer, na terra prometida. Eis-nos, portanto, aqui, neste novo começo que é também continuidade, nesta nossa páscoa de cujo limiar estamos distantes ainda sete dias, mas já adentrando a terra que nos prometeu o Senhor.

 

Durante as celebrações da Solenidade de São José Esposo de Nossa Senhora aconteceu a abertura do Ano Jubilar com uma queima de fogos que marcou o início deste tempo que quer ser um grande memorial que nos permita, unidos todos na mesma fé e na mesma esperança, tornarmo-nos um pouco contemporâneos dos que noutros tempos por aqui passaram. Aos dezoito dias do mês de março do Ano do Senhor de 2016 abriu-se nosso Jubileu, reunidos todos às portas da Capela de Nosso Seminário e nutridos pelo verdadeiro Pão do Céu. Abriu-se nosso Ano Santo sem o ressoar da trombeta, mas com o anúncio da morte de Cristo e proclamação de Sua ressurreição, com Seu estandarte erguido alto e nossos olhares e corações voltados para o céu.

Paulo Chaves, 1.º Ano de Filosofia

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