Comerão e ainda sobrará” (IIRs, 4, 43)
Deus é abundante em tudo, somente Ele pode saciar o seu povo, somente Ele pode arrancá-lo da indigência: moral, espiritual ou material. Porém, o agir milagroso de Deus exige a cooperação do homem, no sentido de dispor com generosidade o pouco que tem. Assim o vemos simbolizados nos vinte pães que “um homem de Baal-Salisa” trouxe para Eliseu, e que Ele ordena seja distribuído ao povo e afirma com confiança: “Comerão e ainda sobrará” (IIRs 4, 43).
Este mesmo aspecto sobressai também na multiplicação dos pães no capítulo sexto do Evangelho de João, no qual o que os discípulos tem para apresentar ao Senhor são cinco míseros pães e dois peixes que estão com um menino. Muito pouco comparado à multidão que precisa matar a fome. Jesus toma esta limitada quantia de alimentos e realiza o milagre da multiplicação, mantando a fome da multidão e ainda sobrou.
Estas duas narrativas nos indicam que nada do homem é pouco diante de Deus, por mais pobres que sejamos, se depositamos o que temos com confiança em suas mãos Ele realiza o milagre. Porque Deus é abundância de bem, de graça, de justiça, de misericórdia. Esta sua abundância somente não se manifesta onde reina o egoísmo, a usura, a incapacidade de abrir-se para Deus.
Os poucos bens que temos, as qualidades, as virtudes, se os guardamos para nós eles caducam. É o que ocorre no mundo dos homens que se apegam aos seus bens de maneira desordenada, ao ponto de tratarem a Jesus Cristo e o seu evangelho como um inimigo, como uma ameaça às suas posses.
Aqueles que agem assim fazem dos seus bens, das suas qualidades e virtudes, realidades caducas, inoperantes, inúteis para os outros, com o tempo, inúteis também para si. Quantos poderiam realizar aos pobres um bem imenso se, inspirados pelo evangelho, pusessem um pouco dos seus bens para socorrer a indigência dos mesmos. Graças a Deus, há muitos que assim o fazem.
Quantas pessoas talentosas, com qualidades extraordinárias, mas são fechadas em si mesmas em seus próprios interesses e terminam por não realizar no mundo o grande bem que poderiam, e para qual tem capacidades suficiente. Graças a Deus, há muitos que assim o fazem, por amor a Jesus Cristo, doando seu tempo para o socorro dos que precisam.
A oração da coleta nos ensina que os bens deste mundo, os bens que passam são para ser usados, não somente em favor próprio, mas também em favor dos que precisam. Enquanto que os bens eternos são para serem abraçados. Somente é capaz de se desprender, de ser livre, de usar com sabedoria e prudência os bens que passam, aqueles que já abraçaram os bens que não passam: a graça, a vida eterna, Deus mesmo.
Deus é o supremo bem que não passa, aqueles cujas vidas estão ancoradas Nele, não temem administrar seus bens terrenos segundo a lógica do evangelho. Não temem abandonar seus cinco pães e dois peixes nas mãos do Senhor. Aqueles que assim o fazem experimentam grandes milagres, veem os grandes sinais do amor de Deus difundido pelo mundo.
A abundância de Deus se revela ao mundo na generosidade dos que Nele creem, dos que permitem o milagre da multiplicação através de si, dos seus bens, depositados com confiança nas mãos do Senhor. Quando a abundância de Deus se encontra com os corações generosos não falta nada a ninguém. O que Eliseu atesta: “Comerão e ainda sobrará”; o que Jesus confirma com a multiplicação dos pães.
Pe. Hélio Cordeiro