“Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15, 17)
O ser humano não pode viver sem amor, tanto que, aonde não há amor, este se aniquila, se desfigura, se destrói. Mas o amor é algo que não podemos nos dar, é um dom que recebemos de Deus. Ou, se queremos ir mais longe, como afirma São João: “Deus é amor” (IJo 4, 8). É o mesmo que dizer o “Amor é Deus”. O amor é ainda um imperativo para os discípulos de Jesus: “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros” (Jo 15, 17)
Se o amor é Deus, significa que sem Deus não podemos viver, porque sem Ele não temos o amor em nós. Por isso o Senhor nos convida: “Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). Afinal somente aquilo que foi alcançado pelo amor de Deus é que pode tornar-se eterno. Neste sentido, podemos dizer que o inferno é a oposição radical e definitiva contra o amor; a privação perpétua do amor é o inferno, porque é a ausência de Deus.
Precisamos permanecer no amor de Deus em todas as circunstâncias da vida. Um amor que não se confunde com sentimentos ou paixões passageiras e enganadoras. Mas um amor cuja fonte é Deus: “porque o amor vem de Deus” (IJo 4, 7). De modo que, sem comunhão com Ele, não temos condições de amar segundo o jeito de Jesus Cristo.
São João se encarrega ainda de nos mostrar onde o amor de Deus se manifestou: “Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele” (Jo 15, 9). Jesus é o amor de Deus encarnado entre nós, para que pudéssemos viver por amor e para o amor. Sem Jesus Cristo poderíamos até alimentar bons sentimentos, agir por boa vontade, por filantropia, mas não saberíamos jamais o que é o amor.
É na escola de Jesus, é convivendo com Ele, meditando os mistérios da sua paixão, morte e ressurreição que conhecemos genuinamente o que é o amor e o que significa amar. Amar é dar sua própria vida aos outros. Isto Jesus fez por nós definitivamente na cruz, e renova esta entrega nos seus sacramentos, sobretudo a Eucaristia, sacramento do amor.
Bela é ainda a definição de amor que nos oferece São João: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (Jo 15, 10). Noutras palavras, o amor não é algo que sentimos pelos outros, não é uma boa intenção. Antes, na sua origem, o amor é Deus que ama o homem pecador e o resgata do pecado e da morte com o sacrifício do seu Filho único.
Somos, pois, capazes de amar, porque há alguém que nos amou por primeiro, quando éramos ainda pecadores. Portanto, não devemos amar as pessoas porque elas são boas ou más, virtuosas ou cheias de vícios, porque nos agradam ou desagradam, temos que amar porque Deus nos amou por primeiro. Isto é amar segundo o modo de Jesus Cristo: “amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15, 12).
Consequentemente, o amor, no sentido evangélico, não é uma filantropia é a Caridade, ou seja, não brota do fato do homem que ama o seu semelhante. Brota de Deus que ama o homem pecador, assim, o grande filântropo do homem não é o homem – é Jesus Cristo: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando...Eu vos chamo meus amigos” (Jo 15, 13-15). Somente pode ser autêntico amigo de Jesus Cristo aquele que se decide também por amar o ser humano.
Por fim, o amor entre os homens depende diretamente do amor de Deus para conosco. A amizade entre os homens, depende diretamente da amizade com Deus. O amor e a amizade entre os homens, se não for ancorada em Jesus Cristo, muito cedo degenera-se em jogo de interesse, de exploração, de egoísmo. Por isso, o Senhor nos ordena: “amai-vos uns aos outros” (Jo 15, 17). Diante desta ordem do Senhor compreendemos que, nossa postura diante do mundo e das pessoas, nunca poderá ser de condenação ou desprezo, mas uma postura de amor, um amor que liberta, cura, salva e eleva.
Pe. Hélio Cordeiro