“...já não são dois, mas uma só carne” (Mc 10, 8)
Na sua incansável missão, além de realizar milagres, encontrar-se com as pessoas, orar, pregar, conviver, partilhar, Jesus ensinava, para arrancar os homens do pecado e da ignorância e abrir-lhes o caminho da salvação. Para trilharmos o caminho da salvação precisamos deixar-nos ensinar por Nosso Senhor Jesus Cristo que nos fala no seu evangelho.
Hoje Ele nos ensina os fundamentos do matrimônio e a sua predileção pelos pequenos. O primeiro elemento que sobressai no seu ensino acerca do sacramento do matrimônio, é que ele é a primeira comunidade humana fundada e querida por Deus, “desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher” (Mc 10, 6). De modo que não se pode admitir a intromissão do Estado nesta célula mãe da sociedade, a não ser para subsidiá-la em suas necessidades. Mas nunca para substitui-la nas suas competências, como pretendem as correntes culturais comunistas, socialistas ou liberais. Diante do Estado a família é soberana, porque ela tem um valor sagrado.
No matrimônio, homem e mulher se completam, formam uma só carne, partilhando as dores, alegrias, sucessos e fracassos, riqueza e pobreza, saúde e doença. Homem e mulher unidos em matrimônio prestam um culto a Deus no cuidado mútuo um para com o outro e na oferta de vida com o dom dos filhos.
O matrimônio cristão é indissolúvel porque envolve a pessoa por inteira e porque o fundamento desta comunhão de vida é Cristo. Assim, o matrimônio não é um simples contrato humano que pode ser desfeito ao sabor das circunstâncias. Por isso, nos adverte o evangelho: “o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 9)
Embora as culturas ocidentais tenham oficializado a cultura do divórcio, não podemos deixar de dizer que este é contra a natureza do matrimônio. O divórcio é uma consequência da dureza do coração, que muitas vezes leva à traição, à ambição, ao egoísmo, à indiferença, ao fechamento, à falta de fé, à violência, ao rancor e à incompreensão que destroem o amor entre os esposos. A um lar cristão não pode faltar a chama da fé, para que os seus membros não caminhem na escuridão.
O papa Bento XVI se referiu ao divórcio como uma “chaga social”, e de fato é. Uma chaga que tem causado muita dor e sofrimento, cônjuges abandonados injustamente, filhos abandonados, penúria econômica e material, distúrbios psíquicos e emocionais. Eis alguns dos frutos amargos do divórcio. Não podemos deixar de considerar que às vezes se instala, no interior do matrimônio, desvios que são intoleráveis, como a violência, o vício, o adultério contumaz, a ganância, a mentira, o consumismo, o egoísmo. Desvios que, às vezes, tornam insuportável a convivência dentro do matrimônio. Nestes casos extremos a Igreja tolera a separação dos corpos entre os cônjuges. Permanecendo, no entanto, o vínculo, uma vez que, em se tratando de um matrimônio válido, nem mesmo a Igreja tem poder para dissolve-lo, mas somente a morte. As pessoas feridas por tão grande sofrimento precisam ser acolhidas e ajudadas pastoralmente a curar suas feridas.
O matrimônio é um sonho divino para o ser humano, uma experiência de vida que arranca o ser humano da seu estar só, do seu isolamento: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2, 18). Mas para se constituir matrimônio, homem e mulher precisam deixar seus pais, ou seja, precisam seguir seu próprio caminho. Há muitos que querem constituir família, mas com intenção de manter o fardo sobre os pais. Ora, à não ser em situações extremas e imprevistas, os pais padem dar um suporte aos filhos, seja econômico ou na educação dos filhos. Mas isto não pode ser habitual, porque os pais já tem seu próprio jugo. E quanto é duro para avós, já em idade avançada, terem que assumir a educação dos seus netos, porque os seus pais não lograram faze-lo.
O matrimônio sacramental cristão é uma imagem da união esponsal de Cristo com sua Igreja, conforme a compreensão paulina (cf. Ef 5, 21-33). Sendo o esposo a imagem de Cristo Esposo, a esposa uma imagem da Igreja esposa. Deste modo o matrimônio é um mistério de amor, de comunhão, de vida, de serviço, de unidade, de fecundidade, que precisa ser acolhido e vivido na fé, para sobreviver aos perversos ataques aos quais está sujeito.
A vivência sóbria no matrimônio se mantém pela oração em comum, a profissão de fé, a eucaristia dominical, a vida sacramental, o cuidado mútuo, o diálogo, a disposição para o perdão, o sacrifício de si. O cultivo destes valores no seio do matrimônio gera o ambiente adequado para homem e mulher sejam a melhor companhia um para outro. De modo que a melhor companhia para um homem não é um cachorro, mas uma mulher. E a melhor companhia para uma mulher não é um cachorro, mas um homem. Afirmar que a melhor companhia par o ser humano é um cachorro trata-se de uma falácia pagã criada e propagada por uma cultura profundamente zoolátrica, que empenha o afeto devido ao ser humano para os animais.
Pe. Hélio Cordeiro