Depois de quarenta dias com os sinos, o Glória e o Aleluia silenciados na liturgia, a Igreja e toda a criação EXULTAM em uma manifestação de alegria. Convinha que assim fosse, pois a humanidade e toda a criação esperavam ansiosas o dia de sua libertação. A Páscoa é a cumprimento da promessa de Deus feita a Adão e Eva, após a queda, na qual a descendência desta pisaria a cabeça da serpente. Toda a economia da salvação aponta para o dia em que a humanidade, ferida pelo pecado, seria resgatada da “feliz culpa que mereceu tão grande redentor”, como cantamos no Exulte.
Com o pecado, o homem vê sua história, que era para ser de felicidade e presença de Deus, transformar-se em desordem; já as primeiras páginas da Bíblia apresentam as consequências do pecado. Perde o paraíso, pois já tinha matado a experiência do paraíso no seu coração. O ser humano ficou sujeito ao sofrimento e a morte, e sua vida tornou-se difícil a harmonia entre o homem e o restante da criação foi perdida, o trabalho tornou-se penoso e a maternidade marcada pela sujeição e dores. Não só a humanidade ficou sujeita a queda, mas também toda a criação. Enfim, o desenrolar da história humana presente na Sagrada Escritura é o testemunho de um caminho em que se busca ser feliz, mas se depara com a divisão interior, o pecado.
Por isso, foi preciso um percurso doloroso para que o homem tomasse consciência da limitação, do pecado. Deus desde a queda cuidou do homem, manifestando o seu grande amor por sua criatura. Deu roupas aos nossos primeiros pais, escolheu Noé, para fazer a primeira Aliança, marcada pelo Arco-íris. Chamou Abraão, Isaac, Jacó, para formar um povo, o qual receberia a Aliança marcada pela entrega da Lei por meio de Moisés. Enviou juízes, reis e profetas para conduzir o povo. E chegada a plenitude dos tempos, enviou seu próprio Filho para nos resgatar, para nos devolver a comunhão com Deus e ainda mais, para nos elevar a dignidade de filhos de Deus. Por isso, devemos juntos com os anjos e toda a criação exultar de alegria, e cantar ao grande Rei o louvor, pois das trevas trouxe novamente a Luz, da morte e pela morte deu-nos a vida.
Enfim, não deixemos a alegria presente em nós nestes dias se esvair, pois o que celebramos hoje é um pequeno pedaço daquilo que sentiremos quando com Cristo ressuscitarmos. Mas caminhemos hoje com Cristo, na obediência e fidelidade firmes diante dos sofrimentos, pois sem Cruz não tem ressurreição. Cantemos Glória a Deus nas alturas, cantemos Aleluias, toquemos os sinos, juntemo-nos a toda à criação nesse grito de louvor a Deus por tão grande salvação.
Diácono Frederico de Moura Ornelas, 4º Teologia, Diocese de Formosa
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