Neste dia em que celebramos a Solenidade de São José, Esposo de Maria, podemos nos perguntar sobre quem foi este grande homem escolhido para cuidar do próprio Deus encarnado. A abundante representação literária e artística dele nos revela a grande curiosidade que a sua figura sempre despertou e desperta no imaginário cristão de todas as épocas. Se os autores apócrifos, movidos mais pela fantasia do que pelo critério histórico e pela tradição escriturística, buscaram descrever com detalhes a vida e a pessoa de São José, o mesmo não ocorre com os evangelistas que pouco dizem a seu respeito.
Apesar do pouco que a Sagrada Escritura nos conta sobre São José, este pouco se mostra bastante denso e rico em significado. A começar pelo silêncio que revela a profunda humildade deste homem. Ele não quis ser protagonista, mas todas as vezes que precisou atuar o fez com presteza, protegendo o duplo tesouro – Jesus e Maria – que lhe foram confiados. Apesar de origem nobre – Mateus o coloca na linhagem de Davi – ele preferiu viver uma vida simples e modesta na carpintaria de Nazaré. Mais do que o silêncio sobre José, é remarcável o silêncio de José, que supera mesmo o da Virgem Maria. Não existe nenhuma frase ou palavra que os livros santos lhe atribuam. Ao contrário, José se apresenta como um homem mais de agir do que de falar.
O Evangelista que mais fala sobre São José é Mateus que o chama de homem justo. É justo, na escritura, aquele que segue fielmente os mandamentos da Lei do Senhor. José não poderia ser mais exemplar neste quesito. Purificações, Oferendas, Peregrinações … José cumpre tudo aquilo que a Lei Mosaica previa.
Como dito, Mateus coloca José na linhagem de Davi. É por meio de José que Jesus cumpre a profecia e se torna “Filho de Davi”. Se José não gera Jesus para a carne, ele lhe dá um nome e lhe escreve numa linhagem e não numa linhagem qualquer. Também é José, como pai, que impõem o nome a Jesus. Não um nome por ele mesmo escolhido, mas o nome que o próprio anjo havia revelado a José em sonho.
Mateus inscreve José igualmente na linhagem dos patriarcas de Israel, da qual ele é o último. O dom das revelações em sonho parece ser-lhe comum a seu homônimo do antigo testamento. É através dos sonhos que Deus se comunica com José e todas as vezes que solicitado ele atende prontamente o chamado de Deus e logo obedece, seja, para aceitar Maria por sua esposa, para deixar tudo para trás e fugir com sua família para o Egito ou ainda no seu retorno a Galileia.
Em obediência a voz do Senhor, José abandona tudo: o projeto de constituir uma família normal com Maria, o direito de escolher o nome de seu filho e até mesmo a sua tão amada carpintaria em Nazaré para exilar-se no Egito. Eis o porque dele ser considerado homem justo!
A comparação com José do Egito, não se restringe ao nome e aos sonhos. Da mesma forma que o Senhor do Egito confiou ao primeiro José todos os seus tesouros, o Senhor do Céu e da Terra também confiou a São José seus maiores tesouros: o unigênito, Jesus, e a criatura mais bela e amada, Maria. Não é surpreendente que o Papa Pio IX tenha feito dele Patrono da Igreja Universal. Se Deus confiou o corpo infantil de Cristo a José, não deveria ser também confiado a ele seu Corpo Místico que é a Igreja?
É certo que a Igreja não venera com maior devoção a nenhum santo do que São José. Não é surpreendente que aquele que viveu tão humilde e modestamente fosse no Céu elevado por Deus ao mais elevado grau, junto daquela que foi sua esposa sobre a terra. Mas não foi, por ter sido o pai nutrício do Verbo Encarnado ou esposo da toda pura que José chegou a este grau, mas por sua obediência e sua humildade na terra.
Que São José possa ser para nós modelo de homem justo, de homem santo, e especialmente para aqueles que exercem ou se preparam para exercer o ministério ordenado e à quem serão confiados tão grandes tesouros. Rogai por nós, glorioso São José, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.