Prezados irmãos e irmãs, no Domingo de Ramos, da Paixão do Senhor, a Igreja entra no mistério do seu Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, o qual, ao entrar em Jerusalém, preanunciou a sua majestade. Os cristãos levam ramos em sinal de régio triunfo, que, sucumbindo na cruz, Cristo alcançou. De acordo com a palavra do Apóstolo: “se com ele padecemos, com ele também seremos glorificados”, deve-se na celebração e catequese deste dia, salientar o duplo aspecto do mistério pascal. O Domingo de Ramos é a porta de entrada para celebrarmos a Páscoa, dado que não podemos separar a paixão e morte de Jesus de sua ressurreição. Durante a Semana Santa tem importância singular as celebrações, porque através delas revivemos o que celebramos atualizando o mistério em nossa vida.
Lemos no Missal Romano, no que se refere ao Domingo de Ramos: “Na hora conveniente, reúne-se a assembleia dos fiéis num lugar apropriado fora da igreja, trazendo os fiéis ramos nas mãos. O celebrante abençoa os ramos. É proclamado o Evangelho referente à entrada de Jesus em Jerusalém. Precedida pela cruz, a assembleia se dirige em procissão - cantando salmos e hinos de louvor a Cristo rei - para a igreja na qual se celebra a Eucaristia”. As leituras prescritas para esta celebração são as seguintes: Is 50, 4-7; Fl 2. 6-11; Mc 11,1-10.
Com a linguagem simbólica própria da liturgia, ao vivenciarmos esta celebração, somos introduzidos no dinamismo da fé e do contato com o mistério de Jesus Cristo que é o Senhor; Senhor que se fez Servo por amor. Servidor porque o amor é sempre um sair de si e colocar-se a serviço da vida daqueles que se ama. E neste Domingo de Ramos celebramos Jesus Cristo REI pelo seu amor, o que equivale a dizer, rei pela sua cruz porque quem ama de verdade sofre e o sofrimento ensina a amar sempre mais.
Iniciando a celebração, ouvimos o trecho do evangelho que nos fala do acontecimento lembrado: Jesus que entra em Jerusalém. Ele vai em direção à cruz enquanto a multidão pensa que ele, com o poder que demonstrou, vai em direção ao poder e à fama, que se conquistam pela violência. Mas Jesus nos deixa perplexos porque ele recusa combater o mal com o mal. Ele recusa a violência como método de instauração de uma sociedade nova, onde a fraternidade e a solidariedade sejam normas de vida. O amor não se impõe, se propõe e deve ser assumido com a convicção e a força que brotam do interior dos corações.
Quando a procissão avança, seguindo a cruz de Jesus, queremos demonstrar que o escolhemos como nosso Senhor, e o seguimos também pelo caminho difícil de sermos testemunhas do amor-crucificado em nosso mundo que valoriza outras coisas, como por exemplo a competição, o consumismo, o acúmulo de bens e sobretudo o “levar vantagem em tudo” na base do individualismo como regra de vida.
Jesus é o vencedor da morte e por isso o seguimos. Morrendo na cruz destruiu a morte e deu-nos a vida. Por isso levamos os ramos nas mãos que simbolizam a vitória. O vencedor, nas competições esportivas da antiguidade clássica, recebia a palma da vitória. Ao levarmos os ramos sinalizamos que seguimos um vencedor e não um derrotado. Venceu pela força mais poderosa que existe: o amor. Jesus é rei do amor, amor que é a força misteriosa, o dinamismo mais poderoso que existe porque vence a morte. A morte não tem poder sobre quem ama, assim como não teve poder sobre Jesus que ressuscitou glorioso.
Quando a procissão chega à igreja proclama-se a Paixão de Cristo segundo o Evangelho de Mateus. Relato sucinto e comovente: é um Deus que sofre por nós. Só assim podemos crer que Ele nos ama e pode salvar-nos. Ele mergulha no mais profundo do sofrimento humano, o sofrimento do inocente desamparado. E no fundo deste poço Ele vence a morte e vai resgatando todos os vencidos ao longo da dramática história humana.
Que os ramos, ao serem abençoados, levados em procissão e depois guardados em casa, nos recordem a libertação que Cristo nos conquistou, e sobretudo nosso compromisso com esta força libertadora do amor que Ele demonstrou na sua paixão, morte e ressurreição.
Ítalo Araújo Figueiredo
3º Ano de Filosofia