“Eu sou o pão vivo descido do céu” (Jo 6, 51)
O início da primeira leitura, IRs 19, 4, nos diz que “Elias entrou no deserto adentro e caminhou o dia todo”, fugindo das ameaças de Jezabel, que queria eliminá-lo, depois que ele desbaratou os profetas de Baal. Entrar deserto a dentro é fazer uma autêntica experiência de êxodo, é estar só diante dos próprios medos e dilemas, é viver uma experiência de provação.
Refugiado no deserto Elias pede a morte: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais” (IRs 19, 4). Claro que Deus não podia dar-lhe a morte, porque Ele é Senhor da vida, não da morte. Ao invés de dar-lhe o que Elias pedirá, Deus lhe enviou um anjo que lhe deu pão a comer: “Levanta-te e come!”. Dar pão a comer a um faminto do deserto significa dar-lhe a vida.
Ao dar pão a comer a Elias, Deus dá a vida àquele que estava desejando a morte. Depois de ter comido do pão que Deus lhe deu levantou-se, ou seja, ergueu-se da morte, pôs-se a caminho, durante quarenta dias no deserto, “até chegar ao Horeb, o monte de Deus”. Elias aqui é uma imagem do povo de Deus que peregrina no deserto deste mundo, talvez desejando a morte. Porém, no deserto podemos encontrar o Deus da vida.
De modo semelhante como Deus resgatou Elias da morte, Ele não deixará entregue à morte aqueles que peregrinam neste mundo guiados pelas luz da fé. Deus é capaz de levantar da prostração da morte aquele que já desistiu da vida. Deus é capaz de por a caminho aquele que se encontra caído à beira da estrada. Deus é quem sacia a fome que há no coração do homem.
Podemos até carregar desejo de morte no coração, podemos, à exemplo de Elias, ter desistido da vida, devido as provações, as decepções, os pecados, os medos. Mas o pensamento de Deus para os seus nunca é de morte, mas de vida.
A exemplo de Elias também estamos num deserto, o deserto do mundo, com seus perigos, suas tentações, suas seduções. Mas o Senhor nos envia seus anjos para nos alimentar com o pão do céu – a Eucaristia. Os sacerdotes são enviados de Deus que, agindo in persona Christi não deixa faltar aos peregrinos de Deus o pão que vem do céu, pão que dá vida ao mundo: “E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6, 51).
Assim, quem cultiva uma assídua vida eucarística alimenta-se da vida que vem de Cristo, “o pão vivo descido do céu”. Sem este pão caminhamos para a morte eterna, mas se deixamo-nos alimentar por este alimento salutar termos a vida eterna, como nos promete o Senhor: “Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá...viverá eternamente” (Jo 6, 50-51).
Pois a Eucaristia é o memorial da morte e ressurreição do Senhor, que venceu o pecado e a morte. De modo que quem comunga do seu corpo e do seu sangue participa já agora da sua vida imortal, da vida que venceu a morte. Por isso, eucaristia e a esperança na ressurreição futura andam juntas.
Um cristianismo sem o sacramento da Eucaristia é um cristianismo mutilado, incompleto. Precisamos do pão da palavra, que nos chama à conversão, mas precisamos também do pão da Eucaristia, que nós dá a vida eterna. Daí que na Igreja temos duas mesas: a da Palavra e a da Eucaristia. Duas mesas inseparáveis (o ambão e o altar).
Não nos portemos diante da Eucaristia, o pão vivo vindo do céu, com murmurações, com indiferença, com desprezo, como alguns judeus que se levantam contra Jesus. Precisamos deste pão, sem o qual a vida de Deus morre em nós. Estamos deserto a dentro, estamos no mundo, mas temos acesso à vida de Deus por Cristo na Eucaristia. Jesus, Eucaristia, é o alimento do povo de Deus peregrino no deserto deste mundo.
Pe. Hélio Cordeiro