“De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós?” (Tg 4, 1)

    Compreender os mistérios de Deus revelados em Jesus Cristo requer, fé, seguimento, oração, tempo, paciência, conversão. Porque somos lentos para compreender a lógica do amor, da misericórdia, do serviço, da doação de si. Enquanto Jesus estava ensinando aos seus discípulos o mistério da sua paixão morte e ressurreição, estes discutiam entre si para saber que era o maior.

    Jesus estava tentando abrir-lhes os olhos para as coisas do céu e eles ainda apegados as coisas e às ambições deste mundo. É o mesmo esforço de sempre, o Senhor continua a nos falar através da sua Palavra, da sua Igreja, dos acontecimentos. Tentando abrir nossos olhos para as coisas do céu, mas continuamos, mais facilmente, sendo atraídos pelas coisas do mundo. Ah!!! Se brigássemos pelas coisas do céu como guerreamos pelas coisas da terra?

    As coisas do mundo são limitadas, passageiras, mas quantos fazem guerras entre si por causa de tais bens? Não é por acaso que São Tiago se pergunta: “De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós?” (Tg 4, 1). Ele mesmo responde que as guerras e as brigas entre os homens vêm das paixões, da cobiça, da inveja. Estes vícios fazem as pessoas travarem guerras e brigas dentro de si e entre si.

    Esta postura mundana se manifesta na família, as intermináveis brigas por herança; na política, pela tentação do poder, desvirtuando seu caráter de serviço ao bem comum; entre os jovens, os jogos de ciúmes e de exibição; no trabalho, as disputas por cargos, a competição por ganhos; na comunidade, através das picuinhas, dos caprichos; porque quase todo mundo quer ser o maior, não diante de Deus, mas diante dos homens.

    Muitos para serem considerados grandes diante dos homens recorrem à maquinação, à maledicência, à mentira, à calúnia, à violência. Colega de trabalho que calunia o outro para poder ocupar um posto melhor do que ele. O político que destrói a reputação do outro, para promover-se politicamente. Pessoas que semeiam fofoca para destruir famílias, para gerar confusão nas pastorais. A máfia dos concursos que rouba o sonho e o esforço dos que buscam honestamente uma colocação no mercado de trabalho. A malandragem em alguns campos da saúde pública e noutros campos, nos quais quem não tem um apadrinhamento político, fica muitas vezes excluídos do que lhe é de direito: um atendimento médico, uma moradia...

    Se somos discípulos de Jesus não podemos comungar com esta postura mundana. A sociedade está contaminada e corroída por este cinismo, se não vigiamos somos levados a agir assim também. Este é o mundo dos homens, mas não é o mundo querido e pensado por Deus. O que nos adianta sermos grandes diante dos homens, ocuparmos cargos importantes, ter bons salários, se for ao preço da injustiça, da guerra e da perseguição contra os outros?! Se porventura tiverdes que progredir na vida, econômica e profissionalmente que seja de forma justa e honesta.

    Quem se faz grande neste mundo valendo-se de corrupção, de trapaça, de engano, do roubo, de mentira, de perseguição, de fraude, se faz inimigo de Nosso Senhor Jesus Cristo e do seu evangelho. Porque grande diante do Senhor são aqueles que se fazem servos como Ele. Assim, nos exorta o evangelho: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9, 35). É melhor ocupar um posto mais simples, ter uma vida mais pobre, ter menos evidência diante dos homens, procurando fazer-se servos de todos, por amor ao bem e a justiça, do que a prosperidade resultado da injustiça, da cobiça, das guerras, das brigas.

    Quem se faz servo de Jesus Cristo e do seu evangelho guia-se pelo bem, quer ser grande diante de Deus, não diante dos homens. Quem se faz servo de todos, faz guerra contra o pecado, não contra os seus semelhantes; faz guerra contra a corrupção, não contra o próximo. Quem faz guerra contra seus irmãos, se faz inimigo de Jesus Cristo. O mundo dos homens é um mundo de guerra, brigas e de cobiça; o mundo querido por Deus é de comunhão, de fraternidade, de conciliação, de misericórdia, de paz, de serviço mútuo, de partilha.

Pe. Hélio Cordeiro